Sunday, July 15, 2012


A Secretíssima Trindade – ministro, espião e muito mais



Um caso de jornalismo intempestivo pôs um ministro e um espião em rota de colisão… isto é… confusão. E como quem conta um conto acrescenta um ponto, o caso gastou rios de tinta e resmas de papel nos jornais do princípio do século. Principalmente à época, um tal CM (Correio Mór) fez as delícias da populaça com apetências mórbidas para histórias vampirêscas, casos de adultério (vulgo cornos), corrupção e intriga política, condimentadas estas, regra geral, por clichés das anteriores.
Caro leitor, nada do reproduzido é actual (ou atual)! Apenas o espírito humano permanece imutavelmente depravadíssimo.



Capítulo I: O Almocinho



-Sim…, estou!

«Boa tarde Dr. Elvas…, é o George.».

-George quê pá?

«George da Ongoering Dr.».

-Ah!... como está o meu amigo…, isto não é perigoso pá… estar a contactar-me por telemóvel pá… eles até o Cavaquinho Silverado escutam em Bérrém…

«Dr…, deixe isso por minha conta…, está tudo sob controle».

-Sendo assim…, em que posso ser útil ao meu amigo pá?

«O patrão Bruno Mausconselhos encarregou-me de lhe fazer um convite para um almocinho de trabalho… nós aqui na Ongoering trabalhamos também durante a hora de almoço…, brqrtrfrvr…»

-Estamos sempre abertos a esse tipo de iniciativas: um almoço de trabalho…, contém comigo…, trabalho é comigo… é do que este país mais precisa… gente trabalhadora… (como nós…, pensou em voz alta o Dr. Elvas).

George Cara de Pau desligou o telemóvel dando aos lábios um trejeito semelhante a um disfarçado sorriso, pois o agente toupeira, ou sobespião, nomes porque também é conhecido no milieu das secretas, nunca sorri.
«Por esta é que o Mausconselhos não está à espera…, vou sentar-lhe na mesa da sala Tojo o chefão-mor do próximo governo do Passos Perdido… (o agente toupeira teve que morder com afinco os lábios para não soltarem uma estridente gargalhada). E foi a cismar num mais que justificado aumento do pré que George Cara de Pau deu três afinados toques na porta do gabinete do chairman da Ongoering… e entrou.
Mausconselhos estava a tratar a secretária do gabinete, Liz Boa, que se posicionara em cima da secretária de “pau santo” do patrão, que não havia meio de se despachar, vindo ainda a assistir, o sobespião, ao arranjo da compostura de ambos.

 -Porra meu irmão…, essa mania que você tem de bater e entrar logo de seguida tira-me do sério…, isto aqui não são os “serviços secretíssimos” onde não há segredos para ninguém, onde cada qual sabe da vida de todos e todos de cada qual!
Babyfaca, outro “heterónimo” do sobespião, fez jus ao apelido de Cara de Pau, e tomou a seguinte nota no seu telemóvel: o patrão “come” a secretária do gabinete que usa cinta de ligas e meia de lycra transparente… e pelos vistos gosta à doggystyle… brqrtrfrvr…; enquanto o diabo esfrega um olho, a nota solta foi arquivada  na secção “manias e depravações do patrão da Ongoering”.

-Já agora gostava de saber porque interrompeste o meu momento de ginástica de pausa, sem te ter chamado…, meu irmão espero que seja secretíssimo segredo de estado…, gritou, fora de si, o Ongoering man.

«Ó boss, adivinha quem vem almoçar?»…, os olhinhos de Mausconselhos rodopiaram nas órbitas ao adivinhar a visita para o repasto…; «esse mesmo meu irmão e patrão do coração… o Dr. Elvas pessoalmente», rematou George Cara de Pau.

-Então quer dizer que temos o Balsepé na mão…, Balsepé na mão?..., isto não me soa bem, rematou Bruno Mausconselhos enquanto desamarrotava as calças da ginástica de pausa.

O almocinho, propriamente dito, bem comido e bem regado, onde se soube a marca da caneta com que Ricardo Aposta escreve os seus perigosos artigos no Expressamente Jornal (Monte Branca), terminou com uma frase lapidar do Dr. Elvas: -meus irmãos vamos ver o que posso fazer pá…, ou desfazer pá!
Mal sabia o Dr. Elvas que, durante o almocinho na sala Tojo, o agente toupeira mandara os seus pupilos do serviço secretíssimo fotografar o seu pópó, matrícula incluída, e decorá-lo nos interiores com dois potentes e invisíveis aparelhos de TV Audio.



Capítulo II: Estou Ministro


-Está lá queriiida…, está lá?...

O Dr. Elvas não consegue ouvir bem a mulher, pois um besouro de fundo corta as palavras.

-Vai  para o meu escritório amor… talvez consigas ouvir melhor… aí costumo ter boa rede – não desconfia o Dr. Elvas que duas potentes e invisíveis atenas audio dão uma ajudinha na rede local.

«Sim querido… agora ouve-se como se estivesses aqui». Dona Elvas esperava ansiosa aquele telefonema do marido… para lhe comunicar que sim…, que sim…, já estás ministra fofinha. O marido tinha toda a legitimidade em acreditar na sabedoria popular, que confirma: mulher de ministro é ministra!

-Estou ministro querida…, amor… ducha…, eheheheheheheh!..., ministro não… superministro pá!!!

«Mas o Passos Perdido manda mais que tu filho!… ele é o nosso PM» - saiu da boca de Dona Elvas um gritinho histriónico directo à bochecha nadegueira do marido.

-E quem manda no Passos Perdido?... quiduchinha…, quem é?… diga lá amor: moi même…, je…

«Ó Krido Kridinho…, tenha cuidado com a conversa… dizem por aí que um tal agente Cara de Pau anda a escutar Portugal inteiro…» Dona Elvas disse o que disse com a voz mais maternal deste mundo.

-E porque julga a minha menina que eu estou a falar em francês?... esse agente Cara de Pau tirou um cursozeco de línguas técnicas nas Novas Oportunidades…, num domingo de manhã!…  Bom…, bom…, mas agora quem manda sou eu…, o Passos Perdido é chefe do governo e o Dr. Elvas é chefe do Passos Perdido… ip ip urra… ip ip urra… áferriá…, áferrié…

«Não venha tarde maridinho…, cá em casa hoje há jantar e ceia reforçados ihihih…» - rematou Dona Elvas ao desligar a bomba que tinha entre mãos.



AC (continua brevemente)

No comments: