A Secretíssima Trindade –
ministro, espião e muito mais
Um caso de jornalismo
intempestivo pôs um ministro e um espião em rota de colisão… isto é… confusão.
E como quem conta um conto acrescenta um ponto, o caso gastou rios de tinta e
resmas de papel nos jornais do princípio do século. Principalmente à época, um
tal CM (Correio Mór) fez as delícias da populaça com apetências mórbidas para
histórias vampirêscas, casos de adultério (vulgo cornos), corrupção e intriga
política, condimentadas estas, regra geral, por clichés das anteriores.
Caro leitor, nada do reproduzido
é actual (ou atual)! Apenas o espírito humano permanece imutavelmente
depravadíssimo.
Capítulo I: O Almocinho
-Sim…, estou!
«Boa tarde Dr. Elvas…, é o George.».
-George quê pá?
«George da Ongoering Dr.».
-Ah!... como está o meu amigo…, isto não é perigoso pá… estar a
contactar-me por telemóvel pá… eles até o Cavaquinho Silverado escutam em Bérrém…
«Dr…, deixe isso por minha conta…, está tudo sob controle».
-Sendo assim…, em que posso ser útil ao meu amigo pá?
«O patrão Bruno Mausconselhos encarregou-me de lhe fazer um convite
para um almocinho de trabalho… nós aqui na Ongoering trabalhamos também durante
a hora de almoço…, brqrtrfrvr…»
-Estamos sempre abertos a esse tipo de iniciativas: um almoço de
trabalho…, contém comigo…, trabalho é comigo… é do que este país mais precisa…
gente trabalhadora… (como nós…, pensou em voz alta o Dr. Elvas).
George Cara de Pau desligou o telemóvel dando aos lábios um trejeito
semelhante a um disfarçado sorriso, pois o agente toupeira, ou sobespião, nomes
porque também é conhecido no milieu das secretas, nunca sorri.
«Por esta é que o Mausconselhos não está à espera…, vou sentar-lhe na
mesa da sala Tojo o chefão-mor do próximo governo do Passos Perdido… (o agente
toupeira teve que morder com afinco os lábios para não soltarem uma estridente
gargalhada). E foi a cismar num mais que justificado aumento do pré que George
Cara de Pau deu três afinados toques na porta do gabinete do chairman da Ongoering…
e entrou. Mausconselhos estava a tratar a secretária do gabinete, Liz Boa, que se posicionara em cima da secretária de “pau santo” do patrão, que não havia meio de se despachar, vindo ainda a assistir, o sobespião, ao arranjo da compostura de ambos.
-Porra meu irmão…, essa mania
que você tem de bater e entrar logo de seguida tira-me do sério…, isto aqui não
são os “serviços secretíssimos” onde não há segredos para ninguém, onde cada
qual sabe da vida de todos e todos de cada qual!
Babyfaca, outro “heterónimo” do sobespião, fez jus ao apelido de Cara
de Pau, e tomou a seguinte nota no seu telemóvel: o patrão “come” a secretária
do gabinete que usa cinta de ligas e meia de lycra transparente… e pelos vistos
gosta à doggystyle… brqrtrfrvr…; enquanto o diabo esfrega um olho, a nota solta
foi arquivada na secção “manias e
depravações do patrão da Ongoering”.
-Já agora gostava de saber porque interrompeste o meu momento de
ginástica de pausa, sem te ter chamado…, meu irmão espero que seja secretíssimo
segredo de estado…, gritou, fora de si, o Ongoering man.
«Ó boss, adivinha quem vem almoçar?»…, os olhinhos de Mausconselhos
rodopiaram nas órbitas ao adivinhar a visita para o repasto…; «esse mesmo meu
irmão e patrão do coração… o Dr. Elvas pessoalmente», rematou George Cara de
Pau.
-Então quer dizer que temos o Balsepé na mão…, Balsepé na mão?...,
isto não me soa bem, rematou Bruno Mausconselhos enquanto desamarrotava as
calças da ginástica de pausa.
O almocinho, propriamente dito, bem comido e bem regado, onde se soube
a marca da caneta com que Ricardo Aposta escreve os seus perigosos artigos no
Expressamente Jornal (Monte Branca), terminou com uma frase lapidar do Dr.
Elvas: -meus irmãos vamos ver o que posso fazer pá…, ou desfazer pá!
Mal sabia o Dr. Elvas que, durante o almocinho na sala Tojo, o agente
toupeira mandara os seus pupilos do serviço secretíssimo fotografar o seu pópó,
matrícula incluída, e decorá-lo nos interiores com dois potentes e invisíveis
aparelhos de TV Audio.
Capítulo II: Estou Ministro
O Dr. Elvas não consegue ouvir bem a mulher, pois um besouro de fundo
corta as palavras.
-Vai para o meu escritório
amor… talvez consigas ouvir melhor… aí costumo ter boa rede – não desconfia o
Dr. Elvas que duas potentes e invisíveis atenas audio dão uma ajudinha na rede
local.
«Sim querido… agora ouve-se como se estivesses aqui». Dona Elvas
esperava ansiosa aquele telefonema do marido… para lhe comunicar que sim…, que
sim…, já estás ministra fofinha. O marido tinha toda a legitimidade em
acreditar na sabedoria popular, que confirma: mulher de ministro é ministra!
-Estou ministro querida…, amor… ducha…, eheheheheheheh!..., ministro
não… superministro pá!!!
«Mas o Passos Perdido manda mais que tu filho!… ele é o nosso PM» -
saiu da boca de Dona Elvas um gritinho histriónico directo à bochecha
nadegueira do marido.
-E quem manda no Passos Perdido?... quiduchinha…, quem é?… diga lá
amor: moi même…, je…
«Ó Krido Kridinho…, tenha cuidado com a conversa… dizem por aí que um
tal agente Cara de Pau anda a escutar Portugal inteiro…» Dona Elvas disse o que
disse com a voz mais maternal deste mundo.
-E porque julga a minha menina que eu estou a falar em francês?...
esse agente Cara de Pau tirou um cursozeco de línguas técnicas nas Novas
Oportunidades…, num domingo de manhã!…
Bom…, bom…, mas agora quem manda sou eu…, o Passos Perdido é chefe do
governo e o Dr. Elvas é chefe do Passos Perdido… ip ip urra… ip ip urra…
áferriá…, áferrié…
«Não venha tarde maridinho…, cá em casa hoje há jantar e ceia
reforçados ihihih…» - rematou Dona Elvas ao desligar a bomba que tinha entre
mãos.
AC (continua brevemente)
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