Sunday, October 24, 2010













Photograph: Graeme Robertson

Silenciado a bordo

Jimmy Mubenga, angolano, 46 anos, residente no UK desde 1994, casado com Makenda Kambana (42 anos), pai de vários filhos com idades entre os sete meses e os 16 anos, camionista até 2006, ano em que se envolveu numa desordem num bar londrino, e por tal motivo condenado a dois anos de prisão e posterior ordem de deportação para o seu país de origem – Angola – que viria a ser executada(o) a 12 de Outubro passado.
Jimmy abandonara Angola, com a família, por motivos políticos, não desejando regressar por receio de represálias.
No voo BA 77 foi “silenciado” por três (in)seguranças (vulgo “gorilas”) privados, que o acompanhavam no regresso a Luanda, com brutalidade q.b. para que Mubenga fosse impedido de respirar ainda antes do BA 77 levantar  voo em direcção ao seu destino.
Por ser de grossa estatura Jimmy Mubenga foi difícil de silenciar. De nada lhe valeu reclamar «não consigo respirar…, não consigo respirar»…, ou «ajudem-me»…, ou «eles vão matar-me».
Ninguém mexeu um dedo por Jimmy Mubenga… e todos a bordo ouviram os seus gritos de desespero.
Onde estavam os elementos da tripulação da aeronave…, o seu comandante – responsável máximo por tudo o que acontece (ou não acontece) a bordo?
Vários políticos britânicos interessam-se agora pelos métodos de deportação em uso no país, reclamando uma «investigação ampla e independente»…, the usual!
Os três “silenciadores” foram ouvidos e libertados sob fiança. Para tão zelosos funcionários a empresa de segurança G4S abriu os cordões à bolsa.
Mas como vai a justiça de sua majestade tratar a tripulação e todos os passageiros do voo BA 77, que, serenamente sentados nos seus lugares de viagem, presenciaram o silenciar de Jimmy Mubenga como se assistissem a uma fita de acção Hollyoodesca.

AC

Wednesday, October 13, 2010

ÚLTIMA POESIA?...

Se eu não escrever mais nenhuma poesia
Fica aqui uma última e derradeira homenagem,
A todos os poetas do mundo na sua viagem...
Pelas palavras autênticas que cada um escrevia!

Depois sigo o meu caminho na noite estrelada
Com a esperança, enfim... de ter alguma calma,
Já não estarei quando chegar a madrugada...
Para onde será que vai descansar a alma?

Talvez encontre o caminho dos poetas mortos
Ou outro qualquer lugar onde me abrigar;
Eu que no mar atraquei em tantos portos,
Porque não hei-de mais uma vez navegar?

Última poesia?... será mesmo que vou escrever
Neste poema toda a magia das frases escritas?
Num golpe de génio deixar a escrita acontecer…
Escrevendo assim quanto penses e sintas!

Matias  José

Saturday, October 09, 2010

John Lennon (1940 - 1980) Músico Filósofo Poeta Beatle Good person Pacifista New York Lover Imagine Stand by me Give peace a chance Mother Come together Get back... Happy birthday Mr Lennon (fotografia Google)

Wednesday, October 06, 2010















Moinho  do “ti” Zé Maneta

Já não o podemos ver
está debaixo do "Alqueva"
que não acabou com a esteva
mas acabou-lhe com o ser.

Era do ti Zé Maneta:
fez alimento com fartura,
noutro tempo, sem usura!
E que boa era a "caldeta"!

 É grande recordação,
pois recordar é viver
como dizia a canção,
mesmo depois de morrer...

AC

 



Moinho do Guadiana – “ti” Zé Maneta
(submerso pela barragem do Alqueva)

Debaixo d’ água e triste
está o moinho encantado,
que ideia lhe assiste
de tornar ao antigo fado.

Voltar a sentir-nos a alma,
dando-nos sombra no estio;
e num fim de tarde calma
para nos acompanhar no rio…

Velho Moinho do “ti” Zé,
que saibas: aprendemos a lição,
mesmo já não te tendo ao pé
guardamos-te no coração.

AC

ALENTEJANOS ILUSTRES





"A Propósito" de Manuel Inácio Pestana (1924-2004)

Homem de imenso saber, da cultura, historiador, investigador, pedagogo, autor de extensa bibliografia, fundador, com Joaquim Torrinha, da revista Callipole - uma das suas paixões. Alguém com conhecimento de causa, que não eu, fará a sua biografia.
Nasceu no Alandroal, em 1924, e a sua vida decorreu entre duas terras de adopção: Portalegre e Vila Viçosa. Nesta localidade esteve longos anos ligado à Casa de Bragança, como seu Arquivista e Conservador. Foi onde tive a sorte de o conhecer, discreto mas despretensioso, afável, sempre disponível.
Ao Alandroal legou todo o seu vastíssimo espólio literário.
Aqui se publica este seu pequeno mas riquíssimo escrito sobre os vinhos do Alandroal: A FAMA DOS VINHOS DO ALANDROAL PERDIDA E NÃO RECUPERADA (publicado no jornal Diário do sul, onde era colaborador regular). Uma sua chamada de atenção, que felizmente teve eco.

Vem a talho de foice, agora que decorre em Borba a 6.ª Festa da Vinha e do Vinho e se presta homenagem à excelente qualidade deste produto e se evidencia a importância da actividade vitivinícola da região na economia nacional, vem a propósito – dizíamos – recordar o que foi a produção de vinho e a cultura da vinha no termo alandroalense.
A fama dos vinhos do Alandroal remonta aos tempos medievais da formação da nacionalidade, pois já D. Dinis preferia para a sua adega real – segundo lemos na “História de Portugal” de Damião de Peres – os vinhos de Lisboa e os do Alandroal, assim como aquele “bom vinho vermelho e branco” de que a administração municipal do Porto mandou encher dois odres para oferecer a um legado pontifício que em 1390 passou por aquela cidade. Afirmava-se ainda a qualidade excepcional dos famosos vinhos do Douro e dos arredores de Lisboa, talvez os de Carcavelos, Bucelas e Colares. A par destes sobressai então o vinho alentejano do Alandroal, com tais razões se tornou afamado que já o Mestre de Avis Martim de Avelar (1364) inventariava uma importante adega nesta vila nos seguintes termos:
“Uma adega em que estão dez talhas de vinho branco cheias e três cheias de rosete e oito de vinho vermelho;  “as cinco de bom vinho e três de mau, e duas talhas quebradas a uma tinha [tina] e um cocho [tabuleiro] de pisar tinta.
“Está uma talha de vinho na adega de João dos Passos e o vinho é do mestre e a talha de alquiel, [aluguer] e o vinho é furmigento.
“Está uma cuba na adega de Madriana Martins e o vinho do Mestre […]”.
E ainda no séc. XVIII (1756), quando os moradores de Borba, já então região privilegiada de produção vinícola, reclamam a defesa dos seus vinhos perante o incremento do plantio de vinhas nos termos vizinhos, citam-se, além de Elvas, Olivença, Campo Maior e Estremoz, precisamente o Alandroal.
Cremos que a quantidade de produção e a qualidade destes vinhos se mantiveram por largo tempo, até ao ponto de encontrarmos o registo de uma significativa representação deles na grande Exposição Portuguesa realizada em Lisboa em 1888.
Estávamos ainda no período da chamada “Revolução Verde” que desde os meados do século se caracterizara por um aumento da produtividade agrícola no país, em que, embora diminuindo a produção de trigo por força da concorrência americana aumentava a do milho e proporcionou o incremento do plantio de vinhas em substituição das searas. Por outro lado, a filoxera já dominava a Europa, de modo que em Portugal as perspectivas de exportação de vinho anunciavam-se promissoras. A crise viria atingir Portugal mas só em 1890 e daí em diante, a filoxera responsável também mais adiante: ”Entretanto, como dizíamos, o Alentejo e nele o Alandroal produziam cada vez mais e melhor vinho. Temos então, para remate desta notícia, que na referida exposição agrícola do Alandroal se apresentaram com os seus vinhos os seguintes produtores: António Joaquim Barbas e António José Biga, Joaquim José Fernandes e José Mariano Carvallho Faleiro – que eram os maiores produtores do concelho – e ainda António José Neves, Bárbara Luísa Matroco, Catarina Rita Cordeiro (Monte dos Pobres), Emídio José Simões, Fortunato José da Fonseca, José Madeira da Silveira Belo, José Joaquim Mendes, José Pedro Galhardas, Martinho José Galhardas, Joaquim Diogo Morte e Joaquim Lopes Godinho. Apresentaram vinhos tintos, brancos e licorosos (A. J. Biga) Aguardentes (A.J. Biga, E. J. Simões, F. Fonseca e J.J. Fernandes).
As quantidades de produção anual de alguns destes vinicultores alandroalenses superavam de longe as de qualquer outro dos muitos expositores do nosso distrito, o que vem demonstrar como na realidade eram de fama os vinhos desta terra, hoje perdida reduzida que, após a doença das vinhas, se tornou encaminhada a produção para as cooperativas da região, quando, historicamente pelo menos, se justificaria hoje a existência no Alandroal da sede uma região vinícola incrementada como me parece tem vindo a ser a plantação de vinhas no concelho.
Por tudo quanto fica dito, não merecia o Alandroal a homenagem dos actuais industriais da produção vinícola desta região, lembrando o seu nome numa das marcas comercializáveis?



Tuesday, October 05, 2010





















(Arquivo A CAPITAL. Publicada em 4 de OUT. 1974)

Este histórico comunicado, já publicado no oraculodasabedoria.blogspot.com, transita hoje para o lugar que lhe é devido – 5 de Outubro de 2010.
Os cruzadores Adamastor e S. Rafael, fundeados no Tejo, abriram fogo sobre o Paço das Necessidades, onde se encontrava o rei.
O primeiro tiro que atingiu o Paço provocou uma onda de pânico e desorientação.
O rei D. Manuel foi para o seu oratório pessoal, pedindo a ajuda divina. Pouco depois abandonou o local em direcção a Mafra.
Como consta do comunicado saído da MAJORIA GENERAL DA ARMADA e enviado para bordo do Adamastor: [Comunique Cruzador “Adamastor” cesse fogo Paço Necessidades. Ponto. Rei abandonou Paço. Ponto.]
Revolução Triunfante
Viva a República
Ladislau Parreira
(no comunicado é rasurada a coroa)

Sunday, October 03, 2010












FLASH
Gosto de observar estes animais… mas ao longe!
Rebuscando velhas fotografias encontrei esta que, em si, nada tem de espectacular. Mas do lado de cá da objectiva foi onde decorreu o espectáculo.
Numa tarde de passeio e relaxe parei o carro junto à vedação, onde pastavam os touros bravos, animais que muito admiro desde criança, e que não se importunaram com a presença do veículo.
Baixei os vidros e preparei a máquina para fazer uns disparos. Isolei um preto e outro castanho, mais próximos e pelo contraste.
Mas…, pensei eu…, eles (os touros bravos) estão tão calmos que vou fotografá-los fora do automóvel, junto do aramado… sempre faço uma fotografia de melhor qualidade.
De minolta em punho, junto à cerca ainda me ocorreu uma segunda ideia: eles (os touros bravos) nem deram sinal de me sentir por perto. Com alguma agilidade até consigo saltar para o lado de lá… e a coberto das giestas faço um flash mais perto… vai sair fotografia de capa de revista de touros.
Eis-me, pois, de cócoras, “escondido” pela vegetação…, e faço o disparo, um único, isto é, o único que consegui pressionar… e de que aqui dou notícia.
O touro castanho, como vêem, não se molestou com o ruído, ou se deu por isso tal não lhe agitou a bravura.
Mas o touro preto… senhores, levantou de imediato o focinho de fera picada, na direcção do barulho feito pelo disparo, ou seja, na minha direcção, como o atesta a “impressão” revelada.
Depois aconteceu o que já não podia ser revelado: investiu bestialmente em busca do som que lhe incomodara o pasto. Ainda hoje não percebo como as minhas pernas actuaram tão velozmente e como de um salto (olímpico) fiquei do lado de lá do perigo.
O monstruoso touro preto estancou a poucos metros, levantando uma nuvem de pedra solta e pó, ao mesmo tempo que expeliu duas baforadas de mau génio de dentro dos pulmões.
Da minha parte as consequências de este encontro iminente foram de somenos importância: camisa e calças estraçalhadas, um pequeno golpe na testa e arranhões vários nos braços e nas pernas…, tudo resultado do tal salto olímpico.
Ele (o touro preto) nem me tocou…

AC