Tuesday, November 21, 2006

Sunday, November 19, 2006

Um cão chamado Siesta Um cão vive a seu jeito e com muita satisfação: «ou és amigo do peito... ou agarra que é ladrão.» AC


Monsaraz (pelourinho)
AC

Sunday, November 12, 2006

Outono: anoitecer









AC
Torre do tempo..., tempo atrasado..., adiantado..., bom tempo..., no tempo..., fora de tempo...

















































Saturday, November 11, 2006

parada militar











AC
Aqueduto da Água da Prata

































Pelo Aqueduto vem a água de 18 kms de distância, entre a nascente em N.ª S.ª Graça do Divor e Évora. Construído entre 1531 e 1537 (reinado de D. João III), sob a responsabilidade do arquitecto Francisco Arruda, é perto da cidade que atinge a sua grandiosidade. A bela arcaria de volta perfeita tem o seu maior efeito no percurso da Quinta da Torralva, com três pequenas torres de feição classicizante. Ao atravessar a muralha fernandina, atinge a sua maior altura no troço contíguo à rua do Cano (26 metros). Depois confunde-se com o casario..., com ruas e becos, que se acomodaram entre a sua arcada.
AC

Tuesday, November 07, 2006

Saturday, November 04, 2006


A Cidade Das Cegonhas
(entre Montemor-O-Novo e Foros de Vale Figueira)




Há dias, passando pela cidade, olhei para o céu, atordoado pelo ruído ensurdecedor de um avião.
Alguém comentou: «vocês..., lá no campo..., não estão habituados aos aviões...». Ao que respondi pronto: -pois não..., estamos habituados às cegonhas! AC
Tabuleiro decorativo - Santuário S. Miguel da Mota
Alandroal



Tabuleiro decorativo encontrado nas ruínas do Santuário de S. Miguel da Mota. Segundo reconstituição de Alfredo Cândido. Atente-se na semelhança da cruz do tabuleiro, com a cruz visigótica de S. Brás dos Matos - os mesmos motivos decorativos geométricos. AC

Wednesday, November 01, 2006


Oráculo de Évora

Manuel Madeira Piçarra, escreve há 35 anos a "Nota Do Dia" do seu jornal - diário do Sul. Uma vida dedicada a Évora..., ao Alentejo... e a muito mais. É obra!
AC

Tratamento Natural…

Domingo acordo cedo com o cantarolar lançado pela garganta bem treinada do galo residente no quintal do vizinho. Tenho vontade de uma madrugada destas lá ir, incógnito, calar-lhe o pio. O safado dá o concerto da alvorada mesmo arrimado à janela do meu quarto, interrompendo-me o sono reconfortante do dia de descanso.
Começa outra chinfrineira que oiço este ano pela primeira vez – um bácoro anuncia que está de malas aviadas para o outro mundo. É a matança do porco, ritual milenar por estas bandas – aqui não há intolerância que proíba a comezaina.
O vento ajuda ao desassossego, atirando-se com assobio estridente contra tudo o que apanha pela frente. Do lado da serra chegam os primeiros frios. Acendem-se as lareiras em casa de quem as tem, tornando o ambiente acolhedor.
Do sino do convento ecoam as matinas à procura de fregueses para as orações da manhã. Perscruto os passos dos frades que percorrem os claustros, num vaivém que só eles entendem. Diz-se que levam vida austera.
Passa um carro lançando estampidos pelo escape, arremedando intensa fuzilaria. Os que ainda dormem acordam, de certeza, atordoados com o estouro.
Alguém bate à porta. Finjo não ouvir, abafando a cabeça debaixo das mantas. O toque insiste, empurrando-me para fora da cama, aos tropeções.
–Quem será que tão cedo me vem dissipar definitivamente o merecido repouso dominical? Abro a janela às apalpadelas e logo tenho que cerrar as pálpebras pela intensidade da soalheira matinal. Reconheço a voz do Sebastião Enjeitado, mais conhecido pelo Salta Léguas – assim crismado pelo característico modo de andar aos saltos – nome que lhe assenta que nem uma luva na profissão de moço de telegramas e recados que exerce no posto público e de correio, único local de onde é possível comunicar com o exterior, o que o faz andar o dia inteiro numa roda viva. Tem umas pernas enormes e uns membros superiores diminutos, fisionomia que, associada ao saltitar, me faz lembrar um canguru. Vive em casa de D. Matilde, proprietária da pensão Estrela, onde, a troco de cama, mesa e roupa lavada, ajuda no que é necessário, quando os telegramas e recados lhe deixam tempo livre.
–O que temos hoje tão cedo, Salta? O posto está encerrado e tu fazias bem em estar ainda em vale de lençóis – a ver se eu consigo passar um pouco mais pelas brasas.
«Queixe-se da patrulha da Guarda, senhor doutor, foram eles que passaram por casa de D. Matilde e deram recado para o avisar que no monte da Fonte Limpa precisam de si para o velho Busca, há três dias tão doente que foi à cama – e se é rijo o cabrão do velho!»
–E a Republicana não te disse do que se queixa o... –não importa, seja o que for que atormente o Busca, tenho que lá ir e adiar o passeio alinhavado com a família.
«Parece ser mal de barriga» – largou em voz esganiçada o Sebastião Enjeitado, quando já batia em retirada, aos saltos.
O dia que tinha amanhecido sorridente toldou-se por completo, sendo eu acompanhado no destino para o monte da Fonte Limpa, onde ia consultar o enfermo, por forte trovoada que me encharcou até aos ossos e manteve em constante sobressalto a minha égua baia.
Finalmente chego. Um rapaz toma conta do animal e a mulher do Busca, ti Maria Cosme, faz-me entrar na cozinha do monte.
Com mil lamentos pelo meu estado deplorável, introduz-me na grande chaminé para que me seque: «uma molha assim é meio caminho andado para doenças ruins e outras que se apanham com o enregelamento…, isto, senhor doutor, sem querer estar a ensinar o pai nosso ao padreca.»
Agrada-me o tom jocoso que mete na conversa. Sabe-me bem o calor do lume.
Ti Maria Cosme observa-me de soslaio e compreende, pelas voltas que o meu nariz dá, que capto o cheiro que empesta os quatro cantos da casa. Ri-se, comprometida. Logo desembucha: «o doente, graças a Deus, está melhor e não merecia a pena o senhor doutor apanhar esta carga de água, se eu adivinhasse que vinha aí uma trovoada.»
Supu-la incomodada por me ter desabado em cima quase metade do firmamento e confirmei: –quando esta manhã o Salta Léguas foi bater-me à porta, disse que é da barriga que ele se queixa; talvez coisa estragada que tenha comido…, adiantei convicto.
«O contrário, senhor doutor, o contrário…, alvitrou a ti Cosme com acento abertamente de gracejo. O mal, a meu ver, foi estar oito dias sem sujar, com sua licença senhor doutor, que assim percebe logo. Tinha a barriga inchada…, que nem o bucho de um boi enfartado...».
Dá gargalhadas soltas, ao mesmo tempo que um rubor súbito lhe invade a face. «Deus sabe que é modo de conversar..., que sempre fui uma mulher séria..., as duas últimas noites não me deixou pregar olho com ais!, uis! e outras coisas que tenho vergonha de dizer diante do senhor doutor. Felizmente a trovoada foi remédio santo. O velhaco dum raio tem medo delas desde pequeno. Quando hoje trovejou, aqui mesmo em cima do monte, fez pelos oito dias que esteve sem desenvolver».
De regresso a casa anotei, na agenda das mezinhas caseiras e tradições medicinais populares, este eficaz remédio para o “embaraço intestinal”, de que tomei conhecimento no monte da Fonte Limpa.

AC