Sunday, September 28, 2008










A Praça - encontro de gentes











Alandroal - Praça da República
(a data da fotografia: primeiros anos a seguir à implantação da República, pois o "rapaz da bicicleta" aqui tem doze anos.)
Uma mota endiabrada
texto:Luis Galhardas
ilustração: Paula Costa








Nesse dia 30 de Agosto Manuel Braga completava dezasseis anos.
Filho de um rico proprietário, que mais rico ficara quando lhe saíra a sorte grande de treze contos, no ano de 1913, não dera ainda por qualquer obstáculo na vida.
Nascera rico e, como era óbvio, tinha vida de rico.
Menino predilecto de Francisco Braga a quem não dera preocupações que não fossem as próprias do desenrolar da mocidade, fizera a instrução primária com brio e desenvoltura invulgares.
De tal modo que aos doze anos estava à frente da complexa escrita dos negócios familiares.
Não se colhia um quilo de uvas, laranjas, ou azeitonas que não fosse devidamente registado; nem saco de farinha da moagem, ou garrafão de azeite do lagar que não lhe passasse pela ponta do lápis.
O pai, babado com as qualidades do pequeno Manuel, presenteara-o com a primeira bicicleta que a vila vira chegar.
Fora no dia dos seus treze anos. O pai chamara-o ao escritório para que assumasse à janela de sacada, a alguém que o perguntava.
Encostada ao banco da rua, em frente à casa, estava a realidade de um sonho que se repetira muitas noites desde que desejara ter uma bicicleta.
Volvidos três anos, já um homem, achou que era altura de dar descanso às pernas.
Tinha lido nos jornais as últimas sobre um novo modelo de mota, de uma marca inglesa, que lhe ficara debaixo de olho.
Voltara a sonhar: o grande farol dianteiro, o imponente guiador em cromado, o selim em cabedal..., enfim, uma verdadeira máquina.
O cabo dos trabalhos é que ouvira o pai, por diversas vezes, vociferar contra um desnorteado de uma terra vizinha, que andando de amores com uma rapariga da terra, ali se deslocava em mota ruidosa a que imprimia uma gáspia desmesurada, sobressaltando a povoação.
A medo, deixara aproximar a data natalícia para ganhar coragem que bastasse, apoiada no evento.
Conversa feita um mês antes do aniversário, em dia de boa catadura do pai Francisco, os seus receios eram infundados.
«E se tivesse pedido duas…, porque não?»
«Que não estava já em idade de pedalar!»
Assim, em vésperas de dia de anos, chegava uma mota de marcaTriumph à pacata vila alentejana.
À porta da família Braga juntaram-se os curiosos habituais do burgo, mirando, alguns pela primeira vez, um veículo motorizado de duas rodas.
O pai, ainda ontem crítico acérrimo do tal pinga amor, encorajava agora o filho para uma volta experimental. «Que ruído todos os motores faziam; e quem não quisesse ouvir que se metesse em casa e fechasse as janelas.»
Manuel, já instalado em posição de condução e catapultado para a ribalta das atenções, sorriso de orelha a orelha e peito inchado, deu ao pedal do motor de arranque, com precisão inesperada, e partiu.
Sucediam-se as voltas ruidosas à vila, com passagem obrigatória pela Rua do Caminho da Fonte, onde a assistência que ali se reunira o via passar com estupefacção.
E não havia meio de parar!
Percebida inicialmente a insistência pelo gozo e novidade, aproximava-se a hora do almoço, o que não parecia desmotivar o compenetrado condutor.
Tomou-lhe o gosto…, diziam uns; anda a armar-se…, diziam outros, entre dentes.
Aos apelos do pai para que encostasse respondia com um abanar de cabeça e palavras inaudíveis, perdidas entre os roncos do motor.
Neste vai vem sem fim passou horas a fio, tarde dentro, guiando a sua mota Triumph, novo modelo da marca inglesa.
Por fim surgiu a pé, rua acima, esfalfado e embezerrado, “assento” amassado de tanto trepidar, empurrando com esforço o novo modelo da marca Triumph, agora com o dobro do peso.
À sequência interminável de perguntas do pai, esclareceu irritado:
-Tive que andar até lhe gastar a gasolina toda…, não faço ideia de como se pára o raio da mota!!!

Friday, September 26, 2008









O estado da arte: arrasar é preciso para que não haja memória...

Sunday, September 21, 2008








Praia vigiada: cuidado com o cão...
















Ilha do Pessegueiro
Na ilha: forte construído logo após a Guerra da Restauração, sobre anterior construção militar; e ruínas do período romano, nomeadamente salgas de peixe.
Na costa, sobranceiro à ilha: forte do final do Séc. XVII, felizmente com obras de restauro.