Wednesday, April 25, 2007

25 DE ABRIL


Passaram 33 anos sobre o 25 de Abril, dia mágico..., inesquecível..., vivido então intensamente por um jovem estudante da Faculdade!
Recentemente fui buscar à prateleira da memória alguns apontamentos, gravados como instantâneos fotográficos e que tomaram a forma de novela – A Casa de D. Vicência – a aguardar melhores dias em ficheiro de computador. Este pequeno excerto representa um estado de alma particular desses primeiros dias de liberdade...
AC


O excesso de D. Vicência

Em casa de D. Vicência a casa de banho era uma espécie de sala de estar do início da manhã, ponto de encontro frequente de alguns hóspedes que durante o resto do dia não se viam mais. As conversas cruzavam-se enquanto um tomava duche, o outro se barbeava e um terceiro fumava um cigarro com ar ensonado e taciturno...
Nessa manhã, quase do fim de Abril, D. Vicência excedeu-se. Entrou de rompante na marquise adaptada a casa de banho, com rubor facial evidente e mão na anca, sentenciando: –ninguém sai de casa..., ...há uma revolução na tropa..., ...estão a dar a notícia a toda a hora na rádio...
Eu, que estava no duche, cobri-me com as mãos o melhor que pude e D. Vicência dirigiu-se-me com ar decidido, antes de sair: –está a esconder o quê menino?..., ...que lhe faça proveito se o quer escondidinho...
É verdade que fiquei embasbacado mas o Custódio, mal a viu de costas, fez um gesto com o dedo em direcção à cabeça e, enquanto se desmanchava a rir, ia repetindo quase sem fôlego: –a velha passou-se..., a velha passou-se...
O estudante de engenharia Baltazar Galante – o apelido não encaixava no aspecto: uma trunfa que nunca penteava, a barba um autêntico matagal e pêlos por tudo quanto era sítio do corpo – deu entrada na casa de banho depois de quase ter sido atropelado por D. Vicência. Apesar de trazer o rádio colado ao ouvido, o aparelho tinha o som no máximo, o que distorcia ora para os graves, ora para os agudos, a voz de quem transmitia as notícias.
O Custódio – com ar de incomodado – lançou-lhe um aviso com tom de ordem: –baixa isso «barbudo», que eu de manhã acordo sempre com dores de ouvidos..., ...cala esse «gajo»..., ...e põe música!
Baltazar Galante, pelo modo autoritário do Custódio, anotou que naquele sítio – a casa de banho – onde «as últimas» chegavam velozes com os primeiros raios de sol que batiam nas vidraças, a acompanhar um corrupio de entradas e saídas de gente que se queria despachar para chegar a horas às aulas, ao emprego ou à repartição e que, habitualmente, já tinha ouvido o noticiário das sete, que despejava «as primeiras do dia»..., ...sim, naquele dia de acontecimentos tão importantes mas cheios de incertezas sobre o que se iria passar nas ruas da Cidade... – um ensaio deste género, pouco tempo antes, voltara à base com a polícia no encalço – ...sim, ninguém se lembrara, nessa manhã, de ligar um rádio..., ...ninguém na casa de banho estava ao corrente do movimento da tropa nas ruas da Cidade.
–Espera aí ó Custodinho..., ...desliga mas é a coisa da tua prima que anda a trabalhar muito...; então os meninos, a fina flor da esquerda das Faculdades – gozava, deliciado – não sabem que a tropa está a tomar conta desta merda? Baltazar Galante – em vantagem uma vez na vida – estava irritado e o tom da conversa foi em crescendo até à última palavra que ecoou por todo o 4.º andar do n.º 69 da Rua do Salitre. Logo de seguida ouviu-se a voz esganiçada de Teresinha que sondava – em limpeza – nas imediações da casa de banho, para ouvir e ir contar a D. Vicência: –Jesus..., ...menino..., não seja malcrriado..., está em casa de uma senhorra sérria..., e há clientes no corredorr...
Nessa manhã não houve paródia, nem qualquer tipo de chacota, com a espionagem doméstica da zelosa Teresinha.
O nosso equívoco foi não ter compreendido o excesso de D. Vicência...
–Põe o cantante no máximo – o Custódio virou a conversa do avesso, aos berros.
A casa de banho ficou num silêncio reforçado, onde nada mais se ouviu para além do rádio de Baltazar Galante: –aqui posto de comando do Movimento das Forças Armadas. Hoje, dia 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas consciente de que interpreta a vontade e o desejo da maioria do povo português... ... ...
A transmissão foi interrompida com um pedido de desculpas e a água que continuava a correr do chuveiro inundou-me a alma ao som do Grândola Vila Morena...
O REGIMENTO DE CAVALARIA 3 e o golpe militar do 25 de Abril:
um relatório para a História
O REGIMENTO DE CAVALARIA 3 e o golpe militar do 25 de Abril:
um relatório para a História

Monday, April 23, 2007

O REGIMENTO DE CAVALARIA 3 e o golpe militar do 25 de Abril:
um relatório para a História
O REGIMENTO DE CAVALARIA 3 e o golpe militar do 25 de Abril:
um relatório para a História

Sunday, April 22, 2007

O REGIMENTO DE CAVALARIA 3 no golpe militar do 25 de Abril:
um relatório para a História

Friday, April 20, 2007

O REGIMENTO DE CAVALARIA 3 no golpe militar do 25 de Abril:
um relatório para a História

Thursday, April 19, 2007

O REGIMENTO DE CAVALARIA 3 no golpe militar do 25 de Abril:
um relatório para a História

Wednesday, April 18, 2007

O REGIMENTO DE CAVALARIA 3 no golpe militar do 25 de Abril:
um relatório para a História (Arquivo Diário do Sul)