Sunday, July 22, 2012

















No Pico da Fama – Col du Tourmalet



Como o mundo é pequeno! Até na volta à França o Dr. Elvas tem admiradores que aproveitam o calvário dos ciclistas para lhe manifestarem o seu apreço e apoio (ao Dr. Elvas). Também eu não pude deixar de lhe  dedicar estas  breves linhas, emocionado que sou com a diáspora lusa em terras gaulesas.

Foi um alvoroço aquela manhã no palácio de S. Bendito, com a chamada telefónica vinda do palácio de Bérrém, traduzida pelo assessor de línguas estrangeiras ou estrangeiradas, já que em S. Bendito está em uso o português do acordo Luso Brasileiro e em Bérrém o costume ainda é o português sem acordo ou seja, como dizem alguns gozões da nossa praça literária, macarrónico.
De Bérrém estava em linha o assessor do Presidente Cavaquinho, Nuno Libertino, que insistia em falar com sua excelência o Senhor PM Dr. Passos Perdido, que não se encontrava na residência oficial, repetia o assessor para os assuntos com a Presidência.
-«Nada para fazer???... …bela vida a vossa!!!... … e a economia?..., bem!... com o trapalhão do “Ovo Estrelado” é realmente difícil desemperrá-la…; e as finanças…, daí são só más notícias dadas em onda lenta pelo Vigor Gasparão…».
-Ó Nuno…, o patrão anda por  aí a cumprir agenda…, já que não há mais nada para fazer…
-Mas ó Libertino…,  tens que concordar que o vosso patrão tem arranjado boas trapalhadas… …como assim?... …olha, a da reforma miserável que recebe… parece não dar para pagar os vestidos da dona 1ª dama na Fátima Flopes… e a intriga das escutas aí em Bérrém, um desajustado fait divers com alcance eleitoralista… e mais umas quantas mesquinhices só de manga de alpaca…
Assim ia animada a conversa entre os dois assessores quando foi anunciada a chegada, ao palácio de S. Bendito, do senhor ministro de Estado nº 1 Dr. Gabriel Elvas.
-Bem…, não disse Bérrém…, disse bem!..., chegou o nosso 2º patrão que entrou pela porta do padeiro para não ser apanhado pelos jornalistas…, …emagreceu dez quilos nestes poucos dias e anda num frenesim que não sabemos quando vai ter fim.  Queres falar com ele? – perguntou o assessor de S. Bendito, com uma vozinha que levava o timbre de puro gozo.
«Nãooooo…, nãoooooo…, esse é o nosso grande problema… todas as conversas aqui vão bater no mesmo… é dia e noite: o curriculum vitae do Dr. Elvas…, o curso do Dr. Elvas…, a maldita Lusófila que não devia existir…, …pois com as “outras duas” foi o que foi, nada disto aconteceria…, uma vergonha…, uma vergonha…, grita a professora Cavaquinho pelos corredores do palácio…, já não suporto mais ouvi-la».
-Sendo assim…, Nuno… como queres que faça… ou não faça?...  …ele deve vir almoçar, pois sem os subsídios, e com o controle dos cartões mais apertado, vem sempre.
«OK… liga-me logo que dê à costa…, …podes prepará-lo sobre o assunto: o Presidente quer uma reunião urgentíssima ainda hoje… sem agenda» – Libertino abriu assim a janela indiscreta do suspense.
F…, …trif… só faltava mais esta para nos encanzinar a tarde…, …desabafou em voz alta o assessor oficial para os assuntos com a Presidência, ao mesmo tempo que entrava no gabinete o senhor ministro de Estado nº 1.
«Mais algum sacana dos jornais a fazer perguntas sobre o meu currículo?... olhe que vocês têm ordens para não abrir mais o bico… e o Passos ainda não chegou para o almoço?...». 
Foi com agrado que o assessor viu o senhor ministro de Estado nº 1 dar meia volta e sair, batendo estrondosamente com a porta. O assessor adivinhou que o senhor ministro de Estado nº 1 estava à beira de um ataque de nervos…, quem não estaria…, isto é…, quem não adivinharia!?
Às 13 horas em ponto o senhor PM chegou a S. Bendito, cumprindo ao segundo cronometrado os compromissos da sua preenchida agenda: almoço frugal com o seu ministro de Estado nº 1, para avaliar os danos causados na esquadra do governo pelo submarino da Lusófila. “Esta perigosa situação é preciso encará-la de frente, admitindo que o pilar central da condução política de S. Bendito, o seu super-ministro, foi abalroado!”
Estava a ser servida a sopa quando o assessor oficial para os assuntos com a Presidência pediu licença para entrar e anunciou a sua excelência o PM o contacto feito pela Presidência, a convocá-lo para uma reunião urgente sem agenda, às 16 horas da tarde. O senhor PM e o seu ministro de Estado nº 1 perderam o apetite e ficaram a olhar um para o outro, com a sopa no prato e sem terem nada para dizer .
Felizmente o ambiente foi desanuviado por uma canção, vinda dos lados dos jardins do palácio, entoada por grupo de crianças que ali viera em visita de estudo: indo eu, indo eu, a caminho de Viseu…, ai Jesus que lá vou eu.
O chefe do governo levantou-se da mesa e, com ar decidido, declarou ao seu ministro de Estado nº 1: –vou andando… a caminho de Viseu…, isto é..., a caminho de Bérrém… *bzzbzzbzz*!
O Presidente que às 16 horas batidas aguardava o PM, começou a mostrar sinais de impaciência, como sejam secura de boca, humidificação das “fontes” e um tique de deglutição em seco, constante, pelo já prolongado atraso, que não era habitual. Para se descontrair decidiu desentorpecer as pernas andando um pouco pelo corredor do palácio por onde devia passar o PM. Ouviu vozes e depois no fundo oposto eis que surge a dona 1ª dama que em andamento agitado e suspirado exclamava: “que vergonha… que vergonha… que vergonha!” Mas logo desapareceu por uma porta corta fogo quando o seu marido Presidente a advertiu: “ó mulherzinha…, deixe-me trabalhar…, deixe-me trabalhar”. «Hoje andam todos com os nervos em franja», desabafou para si o Presidente, já farto de esperar pelo atrasado PM.
Lá de fora chega-lhe o pinóni…, pinóni de sirenes e uma chiadeira de pneus a rapar a calçada do pátio do palácio.
“Ei-lo que chega”, pensou em voz alta o Presidente, ao mesmo tempo que instintivamente olhou para o relógio. «17:15!!!, exclamou irritado, uma hora e um quarto de atraso… parece impossível… eu, no tempo do Maurio, vinha sempre com tempo por minha conta. O comilão é que fazia grandes lancheradas… e eu tinha que estar à seca enquanto sua excelência enchia o bandulho». Com esta divagação por outros tempos, entrou na sala habitual de entrevistas com o PM, onde este já se encontrava hirto e mais pálido do que um defunto com doze horas de morto.
«O trânsito infernal…, como de costume…» – disse o Presidente, passando a mensagem de que não iria criticar o atraso intolerável do PM, que se desloca à Presidência a pedido desta.
-Senhor Presidente…, saiba que tive de me deslocar, in extremis, ao Hospital Júlio de Matos, para onde o meu ministro de Estado nº1 foi levado, acometido por um perigoso ataque de pânico.
«Ó diabo…, isto está a ficar feio…» - balbuciou o Presidente para o seu lado direito, onde se encontrava o assessor Nuno Libertino.
« O senhor PM não me levará a mal… …mas no meu estado de 1ª Magistratura da Nação, tenho que lhe perguntar se acha bem manter no governo um colecionador de trapalhadas como o seu ministro de Estado nº 1? Eu sei que é uma situação difícil e delicada… … mas mais delicada e difícil é a situação do país que o governo tem que levar a bom porto…» – pressentia-se que o Dr. Passos Perdido não tinha sequer um trunfo na manga, um ás de espadas que pudesse bater em cima da mesa para resolver a jogada, enfim estava mesmo perdido naquele que agora lhe parecia um grande e inóspito palácio…, …habitado por vampiros! E o Presidente continuou a falar, como se fosse só para ele, com uma frieza draculiana.
«…ora com um “braço direito” a esta hora deitado numa enxerga do Júlio de Matos, metido numa camisa de forças por causa de um ataque de pânico…, deixe-me que lhe diga senhor PM, na Feira da Ladra vai encontrar melhor estampa…» – e o calvário do senhor PM continuou, em direcção ao seu “gólgota”…, no Col du Tourmalet
«…como sabe não perco uma etapa da volta à França, ou não fosse eu um amante da modalidade…; …e hoje reservei um tempinho para ver a subida ao Col du Tourmalet, aqui com o Nuno Libertino, um ás do pedal em BTT…, …mas qual não foi o nosso espanto…, direi melhor…, o nosso choque, quando aparece no ecrã da televisão um português, certamente, com um grande cartaz amarelo que tinha escrito a letras garrafais: “vai estudar Elvas”!».
Percebendo  que o PM também estava  à beira de um colapso…, e para quebrar o ambiente tenso que toldara o éter da sala, o Presidente aconselhou o PM do modo seguinte: «mande esse tal… … seu ministro de Estado nº 1 para Angola… vai ver que ele se vai dar bem com os Dos Santos…, …mais depressa do que pensa arranjará outro “seu ministro de Estado nº 1”».

E há quem diga que o Presidente não tem sentido de humor!



AC

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