Thursday, July 11, 2013





D. Emanuel Terceiro O InClemente

 

Não caro leitor…, não se trata de um rei – como sabe a monarquia deu o estouro com o D. Manuel Segundo – mas do recém-nomeado patriarca de Lisboa. Veio do Porto, o que me deixa alguma perplexidade, este “cara de pão sem sal”, mais bem arreado que o Papa Francisco, bem falante e mania de sabichão.
Hoje fez a primeira predica, já encadeirado, tendo na assistência Os Silvas DeBolikeime, Sua Excelência o PM Pedro Perdido e o chefe do partido Do Centro Social, D. Paulus, por ora sem título ou emprego previsível – ouve-se por aí que está vice PM.
D. Manuel ainda se paramentava quando foi avisado da presença dos três mestres do bas-fond politique, o que lhe deu a vantagem de telefonar para o Santo Pai pedindo aconselhamento teológico para o sermão inaugural.
«Xegalhes una paliza das grandes porqué eles la necessitan» – assim falou Francisco Sólo – «e mis disculpas por la confusión de lenguaje…, como he dito a Barroso, el portugués és un castellano mal hablado… e quizás pior escrito»… bzbzbzbzbzbz…
-Tá lá… tá lá… tá lá – D. Manuel queria mais conversa mas Francisco ficara com os créditos a zero – mais tarde ligo para a casa de Santa Marta para informar o Santo Pai de como correu o meu primeiro sermão aos “gentios”. E quanto ao português…, tenho que dar umas lições a este “Papa Açorda” das línguas.
-Olha que três…, olha que três… da vida airada, Cócó, Ranhito e Facada, pensou para si D. Manuel, en passant, dirigindo um abrangente sorriso à Senhora Silva DeBolikeime que retribuiu o gesto ao bispo com uma elegante genuflexão.
E de imediato ouviu uma reprimenda do esposo: «Nós primeiro que vós!?!...», isto é…, os altos dignatários do Estado só ajoelham perante DeusNossoSenhorJesusCristo…, nunca perante um badameco, acabadinho de chegar da terra dos bimbos».
D. Paulus, ouvindo sem querer o correctivo oral, não conteve uma sonora gargalhada que localizou sobre si os olhinhos indiscretos dos circundantes. E ao confrontar-se com o olhar sisudo do Senhor Silva DeBolikeime, estendeu as mãos na sua direcção com os dois polegares up, no que foi traduzido por uma daquelas frases tão ao gosto dos portugueses, nomeadamente os de DeBolikeime: «fixe meu…, estou contigo meu…, porrada neles meu… etc., etc., etc».
O Senhor Silva DeBolikeime disse qualquer coisa entre dentes que nenhum dos circundantes ouviu mas que um agente dos serviços secretos, colocado no alto do pináculo de uma nave, cometeu a proeza, e imprudência, de ler: «goza, goza meu sacripanta…, troca-tintas…, ainda antes do bater da meia-noite vou mandar-te picar em carne para spaghetti à bolonhesa e distribuir pela sopa dos mendigos».
Pedro Perdido, que estava absorto com a pose, postura e posição (???) do bispo de Portugal, não deu pelas frases entrecortadas…, nem pelos olhares circunspectos…, nem pelo ar embevecido da Senhora DeBolikeime osculando o seu marido…, isto é…, não deu por nada.

 

 

O Sermão propriamente dito

 

Vou começar esta minha primeira homilia, como vosso bispo, abençoando a todos os presentes: «In Nomine Patris Et Filii Et Spiritu Sancti».

A assembleia, em uníssono, respondeu um «Amen», que foi seguido de uma prolongada ovação de palmas e vivas. O entusiasmo da Senhora DeBolikeime era exuberante, pois deu por certo que tamanha ovação só poderia ser para “o meu marido”, palavras que ela soletra com muito cuidado – para não lhe sair “o mê maride”, como dizem as algarvias.
Sem ninguém estar à espera, D. Manuel soprou no microfone e comunicou: «chega minha gente…, isto não é nenhum comício…».
Logo os três da vida airada se perscrutaram mutuamente, com ar de desaprovação mas mantiveram a língua no saco.

«Caríssimas irmãs e caríssimos irmãos,
Estão difíceis os tempos que correm para os portugueses…, muito mais para muitos, por comparação com meia dúzia dos que disfrutam de uma riqueza, por vezes, escandalosa, direi mesmo pecaminosa, aos olhos do Senhor. Isto para não empregar palavras mais acutilantes que possam ferir a susceptibilidade de quem quer que seja.
Como todos sabeis, irmãos, vim do Porto ainda não há quinze dias…, e ao que me é dado assistir nesta cidade de Lisboa? Uma trama sórdida entre politiqueiros…, sim…, repito…, politiqueiros e manhosos, que, para o seu bem e vaidade pessoais, esquecem o bem do povo e atiram com o país para a sarjeta.
D. Manuel não se conteve…, enquanto predicava as últimas frases apontava, sem qualquer equívoco, na direcção dos senhores membros do Estado.
O casal DeBolikeime entrecruzou esgares de afronta, aliviando um pouco os colarinhos engomados, pelo forte calor que se começara a sentir.
De D. Paulus nem a sombra. Ausentara-se, adivinhando o conteúdo literário da homilia, para se encontrar, ali bem perto, com um desconhecido, encarregue da preparação da próxima golpada.
Assunção Estevas, mulher descarnada e sem qualquer sentido de humor, presidenta da AN, que até então passara despercebida, disse para o PM que se encontrava a seu lado: «ressspeitai a vosssa cazza!!!».
Ao que Pedro Perdido, a rezar Pai Nossos e Avé Marias, sem fim, pelo êxito do governo no cumprimento do deficit, respondeu perguntando: «mas qual casa…, mas qual casa?…, se for a minha é em Massamá de Cima».

 

AC