Vão deixar-me cair?
Fui à vila de Alandroal, com almoço marcado para o Arco Íris, mas com
outro propósito, ou ideia, ou destino na mente: observar de perto a Ermida de
N.ª S.ª da Consolação, o estado da arte de um estilo arquitectónico muito
bonito – manuelino mudéjar – que Dom Diogo Lopes de Sequeira* mandou levantar
para no local ser enterrado em campa rasa de mármore, com inscrição em letra
gótica nos quatro lados, que lhe confere também embelezamento decorativo.
Local de concorrida procissão, as memórias de nela participar chegam
aos primórdios da minha infância e por aí adiante…; fechado esse capítulo de
empenhada religiosidade, perco o conto às vezes sem conto que passo perto,
vindo dos lados do Redondo, e olho sempre para a ermida, que prefiro a todas as
outras que cercam a vila, com sentimento de recordação de outros tempos, de
outro Alandroal, digamos assim, e de grande admiração pelo ilustre
alandroalense que a mandou erigir para sua última morada.
Deixemos em paz o secular defunto, impedido que está de cuidar de obra
sua, concentrando em nós vivo desgosto e revolta pelo decretado abandono do
monumento.
Um dia destes fiz o pequeno desvio, desconfiado do estado de
degradação quer da ermida, quer da envolvência, que já se vislumbra bem da
estrada.
Em hora morna dominical ali encontrei, sentado, o Elias: -quem manda
aqui?…, é a Câmara?…, …é a Junta de Freguesia?... …ou será a Igreja? – pergunto
eu.
«Sempre tenho ouvido dizer que é do Santíssimo» – respondeu-me…; «a
porta da sacristia, nas traseiras, foi arrombada mas não havia lá santos… …e o
sino ainda ali está porque é difícil a escalada». Será?
Do que vi entrego-te uma pequena parte em fotografia.
Talvez uma AAEC (Associação Amigos Ermida Consolação) lhe possa valer…
para sua (e nossa) consolação.
*IV Vice-Rei da Índia, diplomata na corte de D. João II, de D. Manuel
I e de D. João III.
Referido nos Lusíadas, Canto X, 52.
AC
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