Sunday, May 17, 2015


Vão deixar-me cair?




Fui à vila de Alandroal, com almoço marcado para o Arco Íris, mas com outro propósito, ou ideia, ou destino na mente: observar de perto a Ermida de N.ª S.ª da Consolação, o estado da arte de um estilo arquitectónico muito bonito – manuelino mudéjar – que Dom Diogo Lopes de Sequeira* mandou levantar para no local ser enterrado em campa rasa de mármore, com inscrição em letra gótica nos quatro lados, que lhe confere também embelezamento decorativo.
Local de concorrida procissão, as memórias de nela participar chegam aos primórdios da minha infância e por aí adiante…; fechado esse capítulo de empenhada religiosidade, perco o conto às vezes sem conto que passo perto, vindo dos lados do Redondo, e olho sempre para a ermida, que prefiro a todas as outras que cercam a vila, com sentimento de recordação de outros tempos, de outro Alandroal, digamos assim, e de grande admiração pelo ilustre alandroalense que a mandou erigir para sua última morada.
Deixemos em paz o secular defunto, impedido que está de cuidar de obra sua, concentrando em nós vivo desgosto e revolta pelo decretado abandono do monumento.
Um dia destes fiz o pequeno desvio, desconfiado do estado de degradação quer da ermida, quer da envolvência, que já se vislumbra bem da estrada.
Em hora morna dominical ali encontrei, sentado, o Elias: -quem manda aqui?…, é a Câmara?…, …é a Junta de Freguesia?... …ou será a Igreja? – pergunto eu.
«Sempre tenho ouvido dizer que é do Santíssimo» – respondeu-me…; «a porta da sacristia, nas traseiras, foi arrombada mas não havia lá santos… …e o sino ainda ali está porque é difícil a escalada». Será?
Do que vi entrego-te uma pequena parte em fotografia.
Talvez uma AAEC (Associação Amigos Ermida Consolação) lhe possa valer… para sua (e nossa) consolação.

*IV Vice-Rei da Índia, diplomata na corte de D. João II, de D. Manuel I e de D. João III.
Referido nos Lusíadas, Canto X, 52.

AC



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