Tuesday, August 13, 2013



 

 
 
De Como O Senhor DeBolikeime Enfrentou Os Três Estandartes

 

 

 
 
 
 
 
 
Quem vai à guerra dá e leva. Tem que ter em conta o ditado quem se mete nelas. Pensar que o adversário tem esquemas tácticos melhores que os nossos…, que as suas armas são mais sofisticadas…, ajuda-nos a pensar em mil e uma maneiras de ultrapassar os seus pontos fortes, descortinando também alguns pontos fracos…, para o levar de vencida.
Se ao contrário procedermos, descurando o opositor que temos pela frente, é avisado tomarmos a extrema-unção (só para os casos em que se é bom cristão) e deixar em ordem as disposições legais, antes de se iniciar a luta.

 
No Palácio está reunido o staff do Senhor DeBolikeime, quer os homens da casa civil, quer os da casa militar, sob a coordenação do chanceler Nuno Libertino.
«A hora é de grande constrangimento, abnegação e patriotismo, pois nunca antes o país esteve tão perto de perder a sua independência, pela mão de um traidor, um vendilhão da Pátria aos interesses dos Merkados…, esse tal D. Paulus». Assim se dirigiu aos seus homens o Senhor DeBolikeime.
E continuou:
«Na grave crise de 1385 foi fácil: cortaram-se as goelas ao Andeiro e a seguir, em Aljubarrota, desbaratou-se o exército de D. João de Castela e queimaram-se os castelhanos apanhados na fuga.
Em 1640 foi o que se viu: fartos da Filipoika, defenestrámos num ápice o Vasconcellos e com porrada da grossa acompanhámos os espanhóis até à fronteira.
Os franceses também tentaram uma françoika  por três vezes e por três vezes regressaram a Paris de França com os fundilhos das calças rasgados por cães raivosos.
Depois têm-se sucedido: vigaristas, vadios, e também jacobinos…,  e cristãos novos…, e cristãos velhos, todos se digladiando num triste espectáculo de se ver quem mais fazia cogulo… enfim… …uns corridos…, outros foragidos…, e apenas um preso – um tal Cesaltino E Morais…, lembram-se…, foi precisa uma grua para o pôr atrás das grades. E…, infelizmente…, gente da nossa…
Mas hoje esse tal D. Paulus, paladino do embuste e da maquiavelice, foi longe de mais ao rebaixar-me diante do país inteiro… e essa não lhe vou perdoar!».
Sua Excelência estava consumido, encharcando lenços e lenços que sua bondosa esposa ia passando ora pelas frontes, ora pelo rosto, ora pelas mãos, para manter o amado esposo confortável.
O seu olhar, encovado pela afronta, procurou o do seu Chanceler: «então diga-me, meu Chanceler, que planos temos para castigar o atrevimento…, atrevimento é pouco…, a traição…, que é o que é…, desse tal D. Paulus?».
O Chanceler do Estado era um homem atarracado (sem pescoço, baixo e largo) e estava mortinho por deitar a mão a D. Paulus para um ajuste de contas que se vinham somando desde os tempos do “Incandescente”, um pasquim de intriga, coscuvilhice e maledicência, que ardera de motu próprio mas que deixara feridas profundas por sarar.
-Assim é Senhor… – respondeu Nuno Libertino – temos…, à cautela com a raposa manhosa, três planos para “suspender” a D. Paulus, a saber: a cavalaria para o esmagar…, os arqueiros para o crivar… e os lanceiros para o trespassar… – o Chanceler marcou cada palavra com um tom de entusiasmado ódio. E dando risadas de hiena com fome de há três quinze dias, rematou – é o que chamam, em linguagem popularucha, “um três em um”.
«Nada disso homem…, nada disso…; o que diria o país inteiro se esquartejássemos a peça…, até o Segurra ia caminho do Caldas chorar lágrimas de crocodilo. Nada disso…, nada disso…» voltou a repetir Sua Excelência já exasperado, dando um valente murro na “mesa redonda” onde estava reunido o estado maior da tropa presidencial.
«Vamos apanhá-lo de ceroilas na mão…, vesti-lo de cima abaixo de um vexame dos grandes…, que dele se há-de lembrar até depois de morto… – ao olhar do Senhor DeBoliKeime assomou um breve sorriso maléfico – … ó Nuno…, foi esse “passarão”…, esse Judas Iscariotes…, que entregou o caso do Elvas aos media, apenas por despeito e ciumeira doentia…, porque era o outro que coordenava a “pasta” política do governo..., como você sabe o nosso PM sem o Elvas é como peixe sem água…  Isto que lhe estou a dizer está debaixo de grande sigilo…, para não agitar mais o mar…, pois a tempestade pode provocar mais náufragos». Sua Excelência falava em surdina, pois, tempos atrás, os seus apertados serviços de segurança (SS) tinham descoberto microfones de escuta em pontos estratégicos do Palácio. «Não é que eu concorde com essas licenciaturas meteoríticas em que alguns dos nossos se montaram…, mas há limites da decência e camaradagem governativa que não devem ser ultrapassados. Concorda comigo…, não concorda… óóó Nuno Libertino!?». Fez-se um breve e profundo silêncio entre Sua Excelência e o seu Chanceler do Estado que valeu mais do que mil palavras ditas a fio durante uma hora.
Depois Nuno Libertino disse: – com certeza Senhor…, certamente Senhor…, que concordo.
«Então se concorda preste bem atenção… porque vamos obrigá-lo a permanecer no governo e a ter que gramar a estucha do Segurra na coligação…, nem que seja no papel de Homem Invisível… ahahahahahahahah!!!
Jamais alguém, naquele palácio, tinha ouvido Sua Excelência rir com tamanha vontade.

 

AC   

(leia o próximo capítulo: De Como O Bispo DE Portugal Ajudou na Contenção Dos Três Estandartes)

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