Sunday, June 24, 2018


Manuel Rita, aliás Chã Frio

 

Foi internado  em 18 de Dezembro de 2010, por coincidência no dia da festa de Natal, onde entrou diretamente. Eu estava do outro lado da sala a observar a cena da receção ao novo residente. Ele sempre fora magro mas vinha por metade.  A assistente social cumprimentava  efusivamente a sua chegada: “Sr. Rita…, isto é que é sorte…, uma festa para o receber”. Ele, surdo que nem uma porta, assegura-lhe: “se tivesse força dava-te uns beijinhos… querida”. Toda a gente ri…, ou sorri…, com vontade. Olham-me inquisitorialmente, pois sabem-me seu conterrâneo. E eu respondo: é mesmo assim…, o Chã Frio atira-se de cabeça…, para que não haja dúvida.
Quando conversávamos o meu pai era pergunta habitual…, que era mais ou menos da sua idade…, juntos na escola da D. Alice, professora de modo rude e mão leve.
Por circunstâncias da vida, nunca tínhamos estado tão perto um do outro. Tinha sim conhecimento das suas aventuras de vida enquanto elemento da banda de Alandroal, onde tocava clarinete…, e também o seu entretém de fotógrafo “paparazzi” local…, amante de beber uns copos e de percorrer quilómetros de alcatrão numa bicicleta com espelho retrovisor à maneira.
Contaram-me que numa época de decadência da Banda, onde tocava clarinete, houve um desentendimento, do qual se desconhece a origem. E numa festividade importante a Banda não saiu a tocar. Todos menos o Chã Frio que saiu fardado para o adro da igreja, onde tocou até ao pôr do sol. Reza a memória do tempo que não passou fome… e muito menos sede. Pudera… com três tabernas ali à mão… e à boca.
Até há pouco tempo desconhecia a origem da alcunha do Manuel Rita, “estória” que me foi contada pelo Capitão José Luís, tio do Francisco Manuel, num dia em que foi visitá-lo.
Há muitos anos, por ocasião do Carnaval, veio ao Alandroal um grupo de rapaziada de Pardais…, ou de Bencatel…, brincar ao Entrudo. O que era habitual naqueles tempos…, livres de redes sociais… mas em que o povo se divertia à grande pelas terras vizinhas. O grupo era dirigido por um “mestre de cerimónia” que controlava os excessos, gritando para os mais exaltados:
“atenção… atenção… …pouco chinfrim!!!”.
O Manuel Rita, que desde criança era surdo, no chinfrim percebia chã frio… …e vá de repetir chã frio…, chã frio…

 …assim ficou Chã Frio.

AC

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