Tuesday, October 29, 2013
Saturday, October 19, 2013
O caso do submarino amarelo - continuação
De como chegou uma boa notícia ao
“reino”
Uma chamada
misteriosa
O senhor Vice PM Dantas Paulus ajeitara-se na nova e muito confortável
cadeira de trabalho para dormir uma soneca, depois de um chato almoço de
trabalho com dois cidadãos italianos de uma fábrica de torpedos, quando o seu
chefe de gabinete lhe anunciou uma chamada do Funchal, mais propriamente das
Ilhas Selvagens, anunciando a voz do outro lado do satélite ser o regente do
arquipélago, Albe Jarbin, o que foi logo confirmado pela algazarra que se ouvia,
ainda Sua Excelência não encostara o ouvido ao auricular.
O Vice PM ainda tentou safar-se mas o seu chefe de gabinete, com ar
aterrorizado, recusou voltar a pegar no equipamento, saindo esbaforido pela
porta de serviço.
«tá lá… tá lá… tá lá… atendem
essa merda ou nam atendem…, estes tipos de Lesboa gostam de me fazer isperar
pra mostrar que sam impertantes mas ê dou-lhes a impertância pelo rego do …ú
acima…». Sua Excelência O Vice PM Dantas Paulus suou em bica, como se
estivesse a orar num horto, e sendo devoto cristão perguntou a Deus Pai que
pecado era o seu para ter que aturar um troglodita daquele calibre, que só diz
asneiras e destila ódios. Depois, num gesto de coragem à antiga, pegou no
telefone e disse: «fala o Vice PM Dantas
Paulus…, faz o obséquio de dizer em que posso ser útil?».
«Fala quem?... Vice PM Dantas
Paulus…, nam sei quem é…, Dantas só conheço o do “manifesto”… por sinal um bom
palerma… como muitos cús há no contnente!» Sua Excelência teve que fazer um
esforço sobre-humano para não se irritar com tanta boçalidade, habituado que
estava a tractos delicados, punhos de renda…, até no chá das cinco habituara as
tias do partido a falar sem aquele tique de subir o tom da voz no fim das
frases.
Pensando ir ter algum êxito, ainda insistiu: «eu sou o novo Vice PM…, o número dois do governo…» e mais não
disse porque do outro lado do satélite a voz berrante e descontrolada
cortou-lhe o pio.
«Tira o cavalinho da chuva…, eu
não falo com números dois…, chama aí o teu patrão… ó submarino!..., chama
depressinha qu’eu já tou agarrado ao instrumento há muito tempo… e as sobretaxas
pró contnente estão pelo olhos da cara… tûdo por vossa cûlpa… cambada de
mafiosos e gatunos…».
Agora o Vice PM Dantas Paulus, estava vermelho que nem um pimentão, não
contra atacou aquele autóctone das Ilhas Selvagens, pois o próprio selvagem (no
sentido de natural dessas ilhas) lhe dera a deixa de apenas querer falar – se
àqueles modos se podia chamar falar – com o Senhor PM Passos Perdido. E ainda
bem… uf uf uf… respirou de alívio Sua
Excelência o Vice PM, que avançou de telefone em punho, em direcção ao gabinete
do Senhor Presidente do Conselho.
Toc Toc Toc…, foram as três pancadinhas que o Vice Dantas Paulus bateu
na porta do gabinete do PM, ao mesmo tempo que rodava a maçaneta e entrava.
«Entre Teresinha…, tenho que lhe
ditar uma correspondência para a nossa chanceler, a tia Merccel, sobre as tais swaps…, que nem eu,
ainda, percebi bem o que são…, talvez seja conveniente passar esse assunto ao
Dantas… ele que se desenrasque… e negocie com os troikanos». Ao completar o
seu monólogo, enquanto remexia numa gaveta da secretária, procurou o vulto da
sua chefe de gabinete mas deu de caras com o do seu Vice que entrara, como era
seu hábito, sem ser pressentido. Assustou-se por demais, como se estivesse a
ver um fantasma… que era a sério.
«Caramba Dantas…, entras sem
bater…, sem fazer qualquer ruído… queres provocar-me um bac cardíaco?... Vinhas
a correr ocupar o meu cadeirão… ou não te conhecesse de ginjeira». Aquele
meio sorriso do seu Vice, que tanto irritava o Senhor PM, disse-lhe que estava
a ser gozado à grande e à francesa por um tratante, ainda por cima instalado na
sua residência oficial.
Pelo som agudo e oscilante – muito semelhante a uma transmissão de
ondas curtas – que saía do auricular do
telefone que Dantas Paulus, de braço estendido, queria entregar ao PM, este
mostrou-se desconfiado e perguntou: «mas
que raio de cantilena é essa…, até parece que do lado de lá algum macaco se
apoderou de um telemóvel?!».
«Sim meu senhor… é mais ou menos
isso… o Albe Jarbin está na emissão e só quer falar contigo…, além de que
pertence ao teu partido e não ao meu» – disse Dantas Paulus com ar de gozo,
depositando o telemóvel nas mãos do PM.
O PM deu um salto no cadeirão, que com o impulso ficou cinco metros afastado
da secretária, e de mãos postas suplicou ao seu Vice: «não… não por favor…, eu não posso falar com esse homem…, não quero
falar com o homem…, fala tu com ele que tens jeito para urdir e tecer teias
como uma aranha». Entretanto, no meio de interferências e ruídos estranhos
ouviu-se uma frase nítida: «nam me digam
qu’esse gajo nam tem tmates pra falar com o chefe máximo do Piéssedê (PSD) do
arquipélago». E desligou…, pelo menos assim pareceu com o terminar dos
ruídos estranhos.
Dantas Paulus ainda não tinha acabado de sair do gabinete, quando Sua Excelência o PM o
interpelou: «ó Dantas…, tens alguma boa
notícia do Submarino Amarelo?... … ao fim e ao cabo tu já foste da Defesa… … e
de submarinos percebes tu…».
A porta do gabinete de Sua Excelência o PM bateu com tal estrondo que
se ouviu por toda a residência.
O Professor Merçalo investiga
A convite do Senhor DeBolikeime, o Professor Merçalo integrou a
comitiva até às Ilhas Selvagens, pois ouvira contar a marinheiros da praia do
Guinchôso que não havia surfondas como as das Selvagens. Poderia ser a sua
oportunidade de surfar uma onda gigante, e ser catapultado para o Guiness,
destronando o maluco da Nazaré. O que daria assunto para quarenta programas com
a Judica Dezuza… , pois o Professor Merçalo tem essa arte de estar sempre a
dizer a mesma coisa, gerando a convicção, em quem ouve, de que o assunto muda
constantemente (o que é próprio de um sábio como ele).
Mas infelizmente nas Selvagens não há praias, não há ondas…, não há
nada…, escrevendo com verdade, há um pássaro da família das cagarras...,
apenas. E como este desgraçado animal ainda não tinha nome, foi apadrinhado
pelo Senhor DeBolikeime, passando a chamar-se a cagarra portuguesa (sabemos que
o bispo de Portugal também deu a sua bênção).
Depois da canseira de percorrer de lés a lés as ditas ilhas em procura
das ditas ondas, o Professor Merçalo avistou ao longe um navio que se afastava
cada vez mais e mais daquela terra cagarrosa, chegando à conclusão que perdera
a fragata portuguesa, melhor dizendo, ficara despejado nas ilhas Selvagens.
Como homem inteligente que era e com grande poder de análise e prestidigitação,
o Professor equacionou calmamente as três ajudas possíveis que podia ter:
-O Papa Francisco…, embora conhecesse o Merçalo da TVY como católico
fervoroso e de bater com a mão no peito, estava fora de questão, pois Roma fica
completamente fora de mão, e Sua Santidade anda assoberbado de trabalho com os
escândalos da pedofilia e da corrupção no IOR (Instituto Ordem para Roubar),
que lhe caíram em cima… … bom!
-O Senhor DeBolikeime, mais que certo responsável pelo seu despejo e
preocupado com a União Nacional, estava a
caminho da Capital…, a fragata desaparecera há muito no horizonte
marítimo…, e não volta para trás porque não há dinheiro para combustível… … cá
me hei-de desenrascar… … bom!
-O Albe Jarbin, senhor absoluto do arquipélago… … bom!… bom!… bom!…,
só de pensar que tinha de falar com tal personagem deu-lhe grande vontade de ir
à casa de banho, em sentido figurado, e logo ali depositou uma pequena amostra
do seu adubo biológico. Ainda estava naquela posição chamada de cócoras, quando
sente escorregar do bolso o equipamento de que estava esquecido: o seu
TELEMÓVELLLLLLL. O seu grito tarzânico ecoou pelos agrestes penhascos da ilha,
ao mesmo tempo que o senhor Professor se estatelava sobre o seu detrito
biológico. Muito mais importante que esse desagradável percalço, era ter na mão
o telemóvel onde estava registado o número do Albe Jarbin e um satélite a
bafejá-lo com rede máxima. Marcou os dígitos com algum tremelique… sentiu todas
as pancadas do coração… a chamar!!!...
acelerou a respiração…
Atendeu: «alô… alô… como está o
meu caro amigo?... é o Merçalo…».
–Merçalo… Merçalo quê?... nam conheço nenhum
Merçalo nas ilhas…, Rabelo?!?... o quê!!!... … o fala-barato da TVY… ó seu
grandessíssimo filho da polícia…
«Ó senhor Doutor Jarbin…,
aqueles ataques que às vezes lhe dirijo é tudo na brincadeira… para entreter o
pagode… é preciso entreter o pagode para ajudar o rapaz do governo…».
–Vai mas é entreter a p… da tua tia…,
aconteceu-te uma desgraça?… deviam ter sido dez…, ah ah ah…, deixaram-te nas
Selvagens… ó diabo tás bem f… pra nam seres espertinho…
«Peço a vossa boa vontade… … e
que me envieis um barquinho de resgate e salvamento… está a pôr-se a noite e um
frio do caraças». O Professor Merçalo captava um cheiro pestilento à sua
volta mas o diálogo com o tal Jarbin embotava-lhe o raciocínio.
Chegara a hora de Albe Jarbin sacar o que tinha na manga: –aportaram aqui dois doidos varridos, num
Submarino Amarelo, que andava em missão encriptada no Mar de Al-Kêva. Dizem que
submergiram na fossa Barranquenha… por descuido do piloto automático… e
emergiram aqui…, no mar do arquipélago… … de facto aqui os tenho. O
Professor ouviu uma espécie de guinchos telefónicos que confirmou ser o Doutor
Jarbin a rir às gargalhadas… e ainda o ouviu proclamar solenemente: –eles estão todos doidos…, … imaginem da
fossa Barranquenha para o mar do arquipélago… … ahahahahahahahahahahahahahahahahaha!!!
A seguir, com voz de grande seriedade, disse: –os do governo do contnente recusaram-se a falar comigo esta manhã…,
quando lhes queria transmitir a notícia…
Epílogo
Que rica ideia…, mandar os dois heróis da descoberta do caminho marítimo
para o arquipélago…, via fossa Barranquenha…, em vosso resgate e salvação… …
ahahahahahahah!!!
Chama cá a Judica que fazemos o próximo programa no palácio do governo
regional.
AC
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